sexta-feira, janeiro 19, 2007

Paulo Coelho - A busca espiritual

A busca espiritual se divide em três etapas: aceitar o que somos, melhorar o que somos e buscar a união com Deus. A "prece da reconcialiação" nos ajuda a cruzar a primeira etapa.

Vamos até um lugar que consideramos sagrado, e onde podemos ficar sozinhos. Ali, depois de agradecer a Deus, começamos a dizer em voz alta tudo o que consideramos como nosso "lado negro". À medida que em progredimos, verificamos que - ao contrário do que pensavamos - a coragem de olhar os nossos defeitos nos dá uma incrivel sensação de liberdade. Passamos a nos sentir mais puros, mais, mais fortes, mais amados.

Oramos desta maneira sempre que necessário. Mas é preciso lembrar as palavras de S. Bernardo de Clairvaux "É bom ter consciência das nossas faltas, mas isto não deve ser uma preocupação constante - ou mergulhamos de novo no desespero.


Creio que não imaginamos a força que vem de dentro de nós, do que somos capazes de fazer, até onde podemos chegar, da liberdade que somos capazes de dotar o nosso eu vivo, da paz e da luta que nos pode dar de viver alimento.

1 Comments:

Blogger maria josé quintela said...

NÓS E OS OUTROS

-DA DIFERENÇA À AFINIDADE-


Chama-se ignorância, esse impulso, tantas vezes irresistível, que nos faz emitir juízos de valor sobre os outros. Mas já se sabe que ninguém gosta de admitir a sua ignorância. E é precisamente esta falta de consciência da própria ignorância que nos faz pousar displicentemente nos dias, vivendo a vida de um modo superficial e desatento, olhando o próprio umbigo e ignorando que existe um universo à volta, visível e invisível, muito maior do que nós...

Existe uma grande tentação para comparar e julgar os outros, com base em referências quase sempre distorcidas pela nossa experiência da realidade, mas não podemos fazer comparações quando falamos de seres humanos. Ser humano é ser diverso, único e original, daí que não seja comparável. Mas ser humano também é ser imperfeito e daí também, a importância de aprender a ser humilde para assumir as limitações inerentes à sua natureza.
Aceitar as diferenças dos outros com abertura total, centrando-nos antes nas afinidades, dá-nos a oportunidade de aprender outras dimensões, adquirir conhecimentos sobre nós próprios e experimentar estados de alma que de outro modo ficarão bloqueados.
Sábio não é aquele que acumula conhecimentos descobertos por outros e se alimenta deles, fechando-se em si próprio e julgando-se superior aos demais. Um verdadeiro sábio é aquele que descobre o conhecimento dentro de si, através da diversidade e da abertura à experiência única da vida, partilhando--o com os outros.

Muitas vezes, as pessoas escudam-se no julgamento dos outros para se esconderem de si próprias e não terem que se questionar sobre as suas insuficiências e contradições. É que a verdade para o ser humano tem, pelo menos, duas versões distintas: a sua versão e a versão dos outros. Saber olhar esta dupla perspectiva é muito importante para compreender e aceitar as diferenças entre as pessoas.
Sempre que a imagem que cada um tem de si não coincide com aquela que os outros têm (e nunca coincide!) e se não tivermos esta percepção das diferenças, o confronto surge inevitável e a insegurança emerge ameaçadora. A tentação é, invariavelmente, passar ao ataque julgando, comparando e condenando.
Esta tendência para julgar os outros resulta muitas vezes de uma incapacidade de auto-valorização.
O que os outros são não determina o que nós somos. Aprofundar a consciência de nós é pois, o primeiro passo para a evolução pessoal e, consequentemente, para aprendermos a aceitar as diferenças como dádivas com as quais ficamos mais ricos e mais sábios.

A verdade e a razão são dois dos conceitos mais subjectivos que existem! Por isso, tantas vezes, se gasta o tempo a falar convictamente sobre o que não sabemos - os outros – especulando sobre as suas virtudes e defeitos, opiniões, forma de falar, de vestir, de comportar e até sobre os seus pensamentos. Neste domínio, a criatividade humana não tem limites!
Mas ninguém tem legitimidade para falar dos outros, porque ninguém sabe o suficiente sobre si.
E esta é a primeira e, talvez, a única premissa que é importante reter. Decerto não é uma verdade original, mas tenho a convicção de que estar consciente do que faz sentido para nós, pode ajudar a interiorizar conceitos, mudando atitudes e comportamentos que não favorecem o nosso desenvolvimento pessoal.
Para mim, esta é uma forma de estar e não quero com isto dizer que é fácil de integrar no nosso quotidiano. Pelo contrário. Reconheço que é um trajecto difícil e moroso, cheio de riscos e terrenos acidentados, retrocessos e desalentos, mas acredito que é um desafio merecedor de todo o investimento pessoal. Porque nada me parece tão compensador como alcançar a tranquilidade de saber e aceitar o que somos.
E para que seja possível aí chegar, é imprescindível começar por aprofundar a consciência de nós, perguntando-nos constantemente: quem sou eu? E se algum dia soubermos responder, aí sim, estaremos em condições de conhecer também o outro!
Nunca é demais repetir que o tempo é um bem precioso. Em vez de o consumirmos inutilmente a julgar e a condenar o próximo, seria bem mais saudável aproveitá-lo em benefício próprio, investindo no autoconhecimento.

Pode parecer estranho (e pouco científico!), mas acredito que tudo tem retorno! Não para “sofrer” o que, supostamente, de mal fizemos aos outros, mas sim para ter a oportunidade de fazer as coisas de um modo diferente.
Julgar é um atributo do ser humano Que ninguém se julgue pois, imune ao julgamento dos outros, por mais irrepreensível que possa ser a sua conduta.
Haverá sempre alguém que discorde de nós.
Haverá sempre alguém que não goste de nós.
Haverá sempre alguém melhor e maior do que nós, seja lá o que for que isso represente para cada um. Cada caminho é único e existem tantos caminhos quantos os seres humanos.
O que é verdadeiramente importante, é ser capaz de julgar com discernimento e consciência, desenvolvendo saudavelmente a auto-estima para não correr o risco de transferir para os outros as nossas frustrações e insucessos. De igual modo, é fundamental ter os afectos bem resolvidos para que a consciência surja na sua plena maturidade.
Antes de fazer qualquer juízo, todos deveríamos lembrar: em qualquer momento da vida, sem aviso, os outros passam a ser nós!
E, acreditemos ou não, é incomensuravelmente mais importante e compensador aquilo que nos une do que aquilo que nos separa!
Maria José Quintela (Abril de 2004)

sexta jan. 19, 01:27:00 da tarde  

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