quarta-feira, julho 25, 2007

Manuel Alegre insurge-se contra o "medo" instalado no PS

Histórico socialista fala de "clima propício" ao cerceamento das liberdades
Manuel Alegre insurge-se contra o "medo" instalado no PS
24.07.2007 - 23h14 Sofia Branco
Jornal Público


“Agora e sempre contra o medo, pela liberdade.” Assim termina o artigo de Manuel Alegre que é publicado hoje na íntegra pelo PÚBLICO, no espaço reservado à opinião. O histórico socialista fala de um “clima propício” ao cerceamento das liberdades e reclama que “o PS não pode auto-amordaçar-se”.
“No PS sempre houve sensibilidades, contestatários, críticos, pessoas que não tinham medo de dizer o que pensam e de ser contra quando entendiam que deviam ser contra”, recorda, contrapondo que agora há o “medo de pensar pela própria cabeça, medo de discordar, medo de não ser completamente alinhado”.São “casos pontuais”, reconhece o vice-presidente da Assembleia da República, mas, mesmo assim, “inquietantes”, porque relevam “um clima propício a comportamentos com raízes profundas na nossa história, desde os esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE”.Os ataques de Alegre às políticas seguidas pelo Governo de José Sócrates são muitos: à “progressiva destruição do Serviço Nacional de Saúde”; ao regime do vínculo da Administração Pública; ao Estatuto dos Jornalistas; ao “precedente grave” do cruzamento de dados na função pública; à “tendência privatizadora” de “sectores estratégicos”, como a electricidade, a água e o ensino superior.“Não tenho qualquer questão pessoal com José Sócrates, de quem muitas vezes discordo mas em quem aprecio o gosto pela intervenção política. O que ponho em causa é a redução da política à sua pessoa”, refere, lamentando a falta de “alternativas à sua liderança”, dentro do próprio PS, mas também no PSD.Manuel Alegre recusa o “álibi” nacional da “necessidade de reduzir o défice” e também “o álibi da presidência da União Europeia” – que, até agora, merece o seu “aplauso”. “O que não merece palmas é um certo estilo parecido com o que o PS criticou noutras maiorias”, diz, lamentando a “tradição governamentalista”, que leva um partido, quando está no Governo, a transformar o “seguidismo” “em virtude”.Analisando as eleições presidenciais – nas quais ele próprio, concorrendo sem apoio partidário, obteve mais de 20 por cento dos votos – e as intercalares de Lisboa – em que Helena Roseta e Carmona Rodrigues concorreram como independentes e somaram cerca de 27 por cento dos votos –, Alegre diz que os cidadãos demonstraram, com a abstenção ou o voto, que “há mais vida para além das lógicas de aparelho”.