A meditação

Médicos, professores, engenheiros procuram e encontram na meditação novas soluções para lidar com o dia-a-dia. Mesmo quem se aventura, apenas por curiosidade, reconhece que há benefícios inegáveis.
Depois da acupunctura e do Yoga, a meditação tende ser a ser mais recente e proveitosa importação do Oriente.
Conheça todos os benefícios, formas de meditar, o porquê do interesse dos cientistas no assunto e saiba também o que precisa para começar a prática.
Texto: Isabel Gonçalves



O que ganha com a meditação
Há muito que se defendem as qualidades terapêuticas da meditação. Cada vez mais hospitais em todo o mundo aconselham esta prática aos doentes como uma forma de aliviar o stress associado à doença e para promover o bem-estar. Uma hora de meditação corresponde a seis horas de sono normal, e isto porque durante a meditação ocorre um aumento de produção e circulação de endorfinas, substâncias que transmitem a sensação de prazer além de aumentar a taxa de oxigenação das células e diminuir os radicais livres.Daí a meditação rejuvenescer as nossas células, gerando um estado mais saudável.
Mas, nos tempos que correm, quem terá uma hora por dia para meditar? Esta pergunta é respondida com um sorriso por Isabel Oliveira que, desde há cinco anos, ministra todos os meses cursos de meditação baseados na tradição indiana. “O ideal é meditar por um período de 30 minutos duas vezes ao dia, mas há quem faça de início apenas 10 a 15 minutos e depois vá aumentando o tempo sem se dar conta disso”. “A meditação dá-nos paz de espírito, capacidade de nos distanciarmos dos nossos problemas ao mesmo tempo que nos torna mais intuitivos.
As pessoas reflexivas dizem “vou dormir sobre o assunto” antes de tomar uma decisão. Pois bem, a meditação ajuda-nos nas respostas intuitivas recebidas durante a sessão de meditação e ao mesmo tempo que, ao conferir maior relaxamento físico, isso gera uma alteração interna do metabolismo orgânico, o que ajuda a diminuir os efeitos do stress, e em muitas pessoas isto acaba por gerar o aumento da confiança e do estímulo para novas ideias. Assegura Isabel Oliveira que deixou uma muito bem sucedida carreira de empresária e decidiu viajar até à Índia e tirar um curso com Deepak Chopra, um dos mais reconhecidos gurus espirituais, e na sequência tornando-se uma instrutora credenciada pelo Chopra Center.


Exame de consciência
Às vantagens óbvias soma-se um enorme leque de formas de meditar. Há quem medite olhando para o mar, há quem o faça andando estimulando a respiração, como os budistas, muitas pessoas utilizam essas técnicas na sua profissão, como uma forma de melhor objectivar as dificuldades da mesma.Livros e cursos ensinam como se faz… mas há quem diga que não precisou de tanto ensinamento.
“Medito por necessidade de me centrar. De acabar o meu dia em paz… Faço-o como quem faz um exame de consciência. E talvez tenha tudo começado por aí, pelo exame de consciência. Tive uma educação católica que facilitou as coisas, mas há gente que não o consegue fazer sem referências”, conta Marta, uma executiva de 50 anos.
Aprender a meditar parece ser uma necessidade sentida por muita gente. Afinal é através de meditação que se ganham os instrumentos para enfrentar um quotidiano feroz com um sorriso nos lábios.
Isabel Oliveira ensina a originalidade deste método está na repetição mental de um mantra, um som que o praticante repete até mergulhar no espaço entre dois pensamentos e aí conseguir o completo relaxamento da mente. Este Mantra personalizado é calculado a partir do momento de seu nascimento entre a energia dessa pessoa com a energia vital da Terra.
Isto gera um efeito de ressonância interno nas nossas células, o que acaba por inserir a pessoa no contexto da meditação. Esse som é personalizado, cada um terá um som diferente que o ajudará a entrar nesse estado desejado, ao penetrar sem esforço no espaço silencioso que existe entre dois pensamentos, e aí mergulhar até o mais fundo de si e encontrar a paz e o silêncio interior.
Segue-se a repetição do mantra que funciona como o único foco de atenção para a mente se aquietar, afastando todas as preocupações ou pensamentos. Esta meditação é feita sem esforço, nem concentração, penetrando no mundo do silêncio interior, a nossa alma, ou por outras palavras o nosso verdadeiro eu, permitindo assim entender a si próprio e encontrando o pensador que é o gerador dos nossos pensamentos. A partir deste estado é possível alterarmos a nossa realidade quotidiana através de novas escolhas, de novos pensamentos e criando um a nova realidade, pois fomos até à fonte do pensamento.
O segredo do som repetido dentro das sinapses cerebrais, cria a condição de encontrar um mundo de bem-estar interior nunca antes sonhado pelas pessoas. Com esse estado interno de vibração, conseguem-se desligar dos efeitos externos do mundo e das suas ilusões, pois descobrem que dentro da sua nova realidade, conseguem superar os fantasmas dos desejos e da intervenção do mundo externo dentro da psique humana.Isto automaticamente, gera a condição de paz e de compreensão do processo individual na vida e nos relacionamentos com o mundo exterior.
Essa forma de meditar ou outra que nos leve até ao nosso interior ajuda-nos a desligar do ilusório e entrar dentro do mundo real das nossas verdadeiras necessidades. Segundo Deepak Chopra, esta ferramenta ajuda-nos a entender a nossa real essência interna e aplicar essa vitalidade no externo à nossa volta, tornando-nos muito mais felizes e centrados


Onde e como praticar
Se deseja paz de espírito, se já não dorme a pensar na crise ou na ameaça da gripe das aves, medite. Vai ver que lhe passa a ansiedade. Primeiro aprende a centrar o seu pensamento no presente, deixando o passado para os historiadores e o futuro para quem ganha com as previsões. Depois perceberá que a paz de espírito não pode ser uma oferta de fora, terá de ser você a conquistá-la. Se acha que não consegue meditar sem aprender uma técnica, procure um curso. Isabel Oliveira tem um site onde lhe pode dar mais informações: www.aprenderameditar.org

A atenção dos cientistas
A abordagem das aplicações terapêuticas da meditação é cada vez mais comum em encontros científicos. O "Mind and Life", nos Estados Unidos, é um deles. A última edição contou com a participação de grandes nomes da neurociência e também de Dalai Lama. Em debate estiveram disciplinas contemplativas na neurociência e o budismo e resultados obtidos em estudos recentes, segundo os quais a prática da meditação promove a reabilitação de doentes do foro neurológico.Veja aqui: www.mindandlife.org


Meditação do Som Primordial
É uma técnica simples e que se pratica sem esforço, os resultados variam de pessoa para pessoa, os efeitos de maior concentração, relaxamento e paz são notórios desde o primeiro dia. A única disciplina necessária é o compromisso interno de o praticar diariamente.
João tem 32 anos, é gestor de recursos humanos e reconhece que as suas expectativas à chegada ao curso: “aprender a meditar para desenvolver outras formas de encarar a vida, criar novas e melhores formas de se relacionar com os outros”. Após o curso acredita que as suas expectativas foram concretizadas. Sente uma maior calma interior e acredita que a prática da meditação vai ajudá-lo a ser mais feliz. Mais pragmática é Ilda, uma professora de 50 anos que, com a mesma curiosidade com que leu Sartre aos 12 anos, aportou no curso.
“Estou numa fase em que sinto que há certos sacrifícios e preocupações que já não quero ter. Decidi parar para pensar em mim. A meditação pode ser uma ajuda nesta nova fase, o primeiro passo”. A par da sua decisão de meditar diariamente inscreveu-se num ginásio onde tenta relaxar o corpo dia sim dia não.
Maria não acha estranha esta combinação. Esta licenciada em ortoptica não aparenta ter os 53 anos que o bilhete de identidade lhe aponta, nem o aspecto de uma peregrina. Porém: “Faço Pilates, como técnica física, caminhadas (onde se incluiu já uma peregrinação a Santiago de Compostela) para alimentar o meu lado espiritual” e agora, munida com as técnicas do curso, promete praticar meditação. “O método até é fácil e bastante eficaz”, diz.E se lhe perguntarem quais as vantagens, é rápida a engatilhar a resposta: “Ganhar maior consciência de nós e do que nos rodeia, olharmos as pessoas e o mundo de outra forma, vai ajudar a desacelerarmos o ritmo e a encontrarmos uma certa paz”.