segunda-feira, janeiro 08, 2007

Fome: 219 milhões crianças não desenvolvem potencial intelectual

Mais de 200 milhões de crianças em todo o mundo com menos de cinco anos não desenvolvem o seu potencial intelectual devido à fome, má alimentação e pobreza, segundo um estudo publicado na revista The Lancet.

Segundo o primeiro artigo de uma série de três, publicados sexta-feira passada na revista médica britânica, a fome e a desnutrição provocadas pela pobreza, especialmente nos primeiros anos, faz com que o cérebro de 219 milhões de crianças nos países em desenvolvimento não consiga progredir na sua totalidade, afectando as capacidades cognitivas, motoras e sócio-emocionais.
A má alimentação e as consequentes doenças fazem com que a pobreza se prolongue por gerações nos países subdesenvolvidos, provocando a perda de conhecimento e da capacidade de trabalho, que acabam por acentuar o atraso sentido nestes países, segundo os investigadores.
O estudo refere que a maioria das crianças atingidas por um fraco desenvolvimento cognitivo infantil - 89 milhões - vive no Sul da Ásia, sendo que no continente africano a maioria das crianças - 61% - não desenvolve as suas capacidades intelectuais.
Países como a Índia, a China, o Bangladesh, a Etiópia, a Indonésia, o Paquistão, a República Democrática do Congo, Uganda e a Tanzânia contam com 145 milhões (66%) dos 219 milhões de crianças com fraco desenvolvimento intelectual.
Segundo Sally Grantham-McGregor, uma das autoras do estudo, do Centro para a Saúde Infantil Internacional de uma universidade de Londres, «as crianças afectadas provavelmente terão dificuldades na escola, e como consequência, um trabalho precário com baixo rendimento, alta fertilidade e possivelmente cuidarão mal dos seus filhos, contribuindo desta forma para a transmissão da pobreza entre as gerações».
Uma das principais causas para o fraco desenvolvimento cognitivo infantil apontadas pelos investigadores são a falta de ferro ou iodo, além da estimulação inadequada da inteligência, das emoções e da competência social na família.
Outros factores de risco apontados pelo estudo são a depressão da mãe, a exposição ao chumbo ou arsénio e doenças infecciosas, como malária ou SIDA.
Para os autores do estudo, estimular as crianças por meio de programas que envolvem brincadeiras, melhorar o ambiente doméstico, como também instruir os pais, são medidas que podem ter um efeito duradouro na inteligência e no sucesso escolar, ajudando a combater e a reduzir o desenvolvimento inadequado das crianças.
Os investigadores sublinham que melhorar o desenvolvimento infantil «é um passo importante para erradicar a pobreza extrema, a crise de fome e assegurar que todas as crianças completem a escola primária, objectivos previstos no projecto Milénio da ONU».
Segundo o estudo, existem 559 milhões de crianças menores de cinco anos que vivem em países em desenvolvimento, das quais 156 milhões têm problemas de crescimento e 126 milhões vivem na absoluta pobreza.
«Estas crianças estão destinadas não só a ter menos educação e um menor desenvolvimento cognitivo, mas também a serem menos produtivas», sublinham os artigos da The Lancet.
«Para alcançar os Objectivos do Milénio de reduzir a pobreza e assegurar que meninos e meninas completem a escola primária, os Governos e as sociedades civis deveriam implementar programas de desenvolvimento infantil de alta qualidade», acrescentam os investigadores.


Diário Digital / Lusa