segunda-feira, outubro 30, 2006

FAO: Mais de 850 milhões de pessoas subalimentadas no mundo

Mais de 850 milhões de pessoas estavam subalimentadas entre 2001 e 2003, segundo o relatório anual sobre Segurança Alimentar da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), apresentado hoje em Roma.
No documento, divulgado na 32º sessão do comité de segurança alimentar mundial da FAO, a decorrer em Roma até sábado, a organização sublinha que este número quase não sofreu qualquer redução desde 1990-92, enquanto que «o mundo é mais rico hoje do que há dez anos».
As últimas estimativas, referentes ao período de 2001-2003, referem 854 milhões de pessoas encontravam-se abaixo do limiar das 1.900 calorias por dia, e que, deste total, 820 milhões viviam em países em desenvolvimento.
Em 1996, a cimeira mundial da alimentação em Roma tinha fixado para 2015 o ambicioso objectivo de reduzir de metade a fome no mundo em relação ao período 1990-92, ou seja, chegar a 412 milhões de pessoas subalimentadas. «Dez anos depois, confrontamo-nos com uma triste realidade: nenhum progresso foi realizado realmente para este objectivo», sublinha Jacques Diouf.
A baixa de três milhões registada nos países em desenvolvimento (de 823 para 820 milhões) é tão fraca que «pode ser atribuída a um erro estatístico», acrescenta o relatório no seu preâmbulo.
«As tendências mais recentes são realmente preocupantes», sublinha a FAO, que nota um aumento de 26 milhões de pessoas subalimentadas entre 1995/97 e 2001/03, após uma baixa de 100 milhões nos anos 80.
A FAO alerta para a situação da África subsaariana, onde o número de pessoas subalimentadas passou de 169 milhões em 1990/92 para 206,2 milhões em 2001/03.
Já na África central (Camarões, República Centro-Africana, Chade, Congo, República democrática do Congo e Gabão) existiam 46,8 milhões de pessoas subalimentadas em 2001-03, ou seja, 56% da população (36% em 1990-92).
Na África subsaariana, a SIDA, as guerras e as catástrofes naturais «obstruíram as medidas tomadas para lutar contra a fome», nomeadamente no Burundi, na Eritreia, na Libéria, na Serra Leoa e na República Democrática do Congo.
Segundo a organização, na República Democrática do Congo - teatro de 1998 para 2002 de uma guerra regional - o número de pessoas subalimentadas triplicou entre 1990-92 e 2001-03, passando de 12 milhões para 36 milhões, ou seja, 72% da população.
A Ásia e o Pacífico, bem como a América Latina e as Caraíbas são as únicas zonas que registaram uma redução do número absoluto.
Para alterar a situação, a FAO insiste na necessidade de investimentos maciços na agricultura, em particular nas zonas rurais.
A FAO coloca nomeadamente a tónica sobre o «círculo vicioso da fome e a pobreza», afirmando que a fome não é só uma consequência da pobreza mas igualmente um das suas causas, porque «prejudica gravemente a saúde e a produtividade das pessoas e obstrui os esforços que realizam para escapar» ao seu destino.
Dez anos depois da Cimeira Mundial sobre a Alimentação representantes de mais de 120 países reúnem-se a partir de segunda-feira e até sábado, em Roma, para analisar os avanços mundiais nesta área.
Os ministros reunidos na 32ª sessão do comité de segurança alimentar mundial da FAO - que decorrerá em Roma entre 30 de Outubro e 4 de Novembro -, estudarão se poderá ser cumprido o objectivo fixado em 1996.
Diário Digital / Lusa
30-10-2006 11:30:58