sábado, agosto 12, 2006

O CÉREBRO MELHORA COM A IDADE

Laurinda Alves
Xis de 12 Agosto 2006

A vida é preciosa, o tempo também e envelhecer deixou de ser uma fatalidade. No sentido neurológico do termo, pelo menos. Quem o diz é Gene Cohen, gerontólogo norte-americano, director do The Center on Aging Health & Humanities no The George Washington University Medical Center, citado recentemente pela revista Newsweek. Contrariando quase tudo o que tem sido dito até agora, Cohen garante que o cérebro humano não perde plasticidade a partir dos 20 anos e esclarece que os neurónios também não se apagam assim tão facilmente como acreditávamos. Muito pelo contrário.

A boa notícia deste especialista em envelhecimento é que o nosso cérebro afinal não perde as suas capacidades de adaptação. Esta verdade científica vem confirmar uma realidade que alguns reconhecem em si ou nos que estão à sua volta: há septuagenários e octogenários que mantêm uma surpreendente forma física e intelectual.
Reduzir a velhice à idade biológica é um erro, portanto. Uma e outra são duas realidades distintas e, daí, fazer cada vez mais sentido associar a idade às circunstâncias específicas de cada um, bem como à sua atitude, ao seu estado de espírito e à sua condição física.

Aos trinta anos podemos ser mais velhos do que aos cinquenta e todos conhecemos exemplos de pessoas incrivelmente velhas em todas as idades. Voltando às conquistas das neurociências e à teoria de Gene Cohen, este especialista diz que é urgente rejeitar algumas ideias pré-concebidas e perceber que o cérebro não se reforma aos sessenta anos. Em certos casos até pode nunca chegar a perder algumas das suas melhores capacidades. Cohen diz que com o avançar dos anos o cérebro descarta emoções mais negativas e só o facto de se desembaraçar deste fardo pesado, permite-lhe ficar mais apto para manter vivas as conexões entre neurónios.

Claro que o cientista desenvolve a sua teoria com muito mais detalhe e rigor do que aquele de que sou capaz mas, resumindo aqui o essencial da sua verdade, o que Cohen diz ter provado é que os pensamentos e recordações acumulados ao longo dos anos se traduzem em ligações mais ricas entre neurónios, fortalecendo particularmente as inter conexões entre os dois hemisférios cerebrais.

Apesar de um cérebro sénior não ser tão rápido a processar e a desmultiplicar a informação como o cérebro de um jovem adulto, o cérebro mais velho (em bom estado de saúde, note-se) ganha uma nova flexibilidade que lhe permite optimizar algumas das suas capacidades.

Gene Cohen especifica e declara que os mais velhos podem revelar uma excelente memória e uma extraordinária capacidade de julgamento e de dedução. Ainda que traduzida por palavras muito simples e, porventura redutoras, esta nova verdade científica é muito encorajadora para todos. Mais velhos e mais novos.

Embora uns prefiram acreditar que a capacidade de deixar para trás algumas emoções negativas decorra de uma sabedoria de experiência feita, Gene Cohen garante que este fenómeno também biológico. Diz ele que as amígdalas cerebrais, alojadas sob o lobo temporal, onde se processam emoções primárias ligadas ao instinto de sobrevivência como o medo, a cólera e a agressividade, reagem com menos vivacidade num sénior do que num júnior. Por tudo isto e porque falamos das vantagens da maturidade, aqui fica mais esta conquista: um pensamento mais leve e mais livre.